Nas areias da Praia da Saudade,...
desde 1852, uma imponente
construção dominava a paisagem e atraía a atenção de artistas estrangeiros que
estavam no Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil (1822-1889):
Pieter
Godfred Bertichen (1796-1866), pintor
e gravador, nascido nos Países Baixos (atual Holanda) e radicado no Brasil
desde 1837. Teve publicado o álbum intitulado O Brasil
pitoresco e monumental em 1856.
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Sébastien Auguste Sisson
(1824-1893), litógrafo, desenhista e biógrafo francês, radicado no
Brasil desde 1852. Dentre seus trabalhos, há o Álbum do Rio de Janeiro
Moderno, publicado por volta de 1860.
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Jean-Victor Frond (1821-1881), fotógrafo e pintor francês, possuiu um estúdio no Rio de
Janeiro entre 1858 e 1862. Em 1859, publicou o livro de fotografia intitulado
Brazil pittoresco: álbum de vistas, panoramas, monumentos, costumes, etc.,
com retratos de Sua Majestade Imperador Dom Pedro II et Família Imperial,
com texto de autoria de Charles Ribeyrolles. Uma das fotografias de Frond serviu
de base para a litografia feita pelo francês Bachelier em 1861.
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Apenas uma
faixa de areia separava o prédio das águas da Baía de Guanabara. Contudo, já em
fins do século XIX e início do XX, a situação era outra...
Na foto abaixo, em frente ao prédio retratado pelos artistas
estrangeiros em meados do século XIX, já havia uma via arborizada e um
cais, usado como atracadouro pelos
pescadores, que estreitavam significativamente as areias da Praia da Saudade. Ao fundo, vemos o morro do Corcovado sem a estátua do Cristo
Redentor, cuja inauguração ainda ocorreria em 1931.
Abaixo, outro ângulo do prédio, agora, tendo ao fundo o morro da
Babilônia, que separa Botafogo de Copacabana.
A seguir,
outra perspectiva fotográfica do prédio, cercado por algumas construções, tendo
um cais na frente e emoldurado pelos morros do Pão de Açúcar e da Babilônia.
Entre 1870 e 1880, o comerciante português Domingos Fernandes Pinto propôs
transformar a região da Praia da Saudade e da Praia Vermelha num novo bairro,
ou melhor, numa nova cidade. Em 2 de março de 1895, ele assinou contrato com a
Intendência Municipal para a construção de um cais, ligando a Praia da Saudade
à Fortaleza de São João na Praia Vermelha. O empreendimento de ocupação da
região não foi adiante, pois, anos depois, o Exército embargou a obra para não
prejudicar a defesa da sua instalação militar. Um novo contrato com a
Prefeitura foi assinado em 1919, mas Domingos Fernandes Pinto não pôde
cumpri-lo. Em 1921, foi constituída a Sociedade Anônima Empresa da Urca, com o
objetivo de dar execução aos contratos para construção da extensão do cais nos
termos do antigo contrato de 1919 entre a Prefeitura e Domingos Fernandes
Pinto. Era o “pontapé” inicial para o surgimento do bairro da Urca, cujo plano
geral de arruamento e loteamento foi aprovado em 1922 e, no ano seguinte, teve descritos
e definitivamente aceitos os Planos de Abertura das suas ruas.
Neste contexto, a Praia da Saudade foi sendo
aterrada com a construção de balaustrada ao longo da já denominada Avenida
Pasteur. Por fim, nada restou dela, quando, em 1927, o Governo Federal concedeu
para o então Fluminense Yachting Club, atual Iate Clube do Rio de
Janeiro, terreno para a construção
da sua sede.
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Foto do Iate Clube do Rio de Janeiro, que será um dos
locais de treinamento para os esportes de vela durante os Jogos Olímpicos e
Paralímpicos de 2016. Logo atrás, o atual Palácio Universitário.
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E, assim, a
Praia da Saudade ficou na saudade e o atual Palácio Universitário perdeu seu
acesso direto às águas da Baía de Guanabara.
Mas, o que
teria motivado a construção do primeiro dos grandes edifícios na Praia da
Saudade e que foi eternizado por artistas estrangeiros? É o que desvendaremos na
próxima postagem, quando desenterraremos a história do Palácio Universitário
das areias, agora, do tempo.
Para saber
mais sobre:
4 Artistas
estrangeiros do século XIX e urbanismo carioca
Sites:
BARATA, C. E. de A. O Rio
de Janeiro visto pelos artistas franceses. Apresentação em PowerPoint em 5
partes. Disponível em: http://www.google.com.br/#hl=pt-BR&output=search&sclient=psy-ab&q=%22O+Rio+de+Janeiro+visto+pelos+artistas+franceses%22&oq=%22O+Rio+de+Janeiro+visto+pelos+artistas+franceses%22&gs_l=hp.3..0i30.14783.21365.0.22518.3.3.0.0.0.0.443.1090.3-2j1.3.0...0.0...1c.dNhW0xmCuUg&pbx=1&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_qf.&fp=c6682dc31d1249f6&biw=1024&bih=673
. Acesso em: 09/08/2012. (sobre urbanismo no Rio de Janeiro, ver: http://www.youtube.com/user/CauBarata)
Livros:
BANDEIRA, J.; LAGO, P. C. et.al. Debret e o Brasil: Obra
Completa 1816-1831. Rio de Janeiro: Capivara, 2007.
BANDEIRA, J.; WAGNER, R. Viagem nas
Aquarelas de Thomas Ender - 1817-1818. Vol.III. Rio de Janeiro: Kapa, 2000.
BARRA, S. Entre a Corte e a Cidade – O
Rio de Janeiro nos tempos do Rei (1808-1821). Rio de Janeiro: José Olympio,
2008.
BARREIROS, E. C. Atlas da evolução
urbana da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IHGB, 1965.
CAVALCANTI, N. O Rio de Janeiro
Setecentista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
CHAMBERLAIN, H. Vista e costumes da
cidade e arredores do Rio de Janeiro em 1818-1819. Rio de Janeiro: s/e,
1943.
COARACY, V. Memórias da cidade do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955.
FERREZ, G. Iconografia do Rio de
Janeiro. 1530-1890. Catálogo Analítico. Vol. II. Rio de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2000.
OBERACKER JUNIOR, C. H. Viajantes,
naturalistas e artistas estrangeiros. In:
HOLANDA, S. B. de (Org.). História geral da civilização brasileira. Vol.
1. Tomo 2. São Paulo: Difel, 1962.
Acervo
de instituições culturais no Rio de Janeiro:
Arquivo
Nacional (acervo do fotógrafo franco-brasileiro Marc Ferrez): Praça da República, 173 - Rio de Janeiro (http://www.an.gov.br/ferrez/)
4 Bairro
da Urca
Livro:
LOUZEIRO, J. Urca: o bairro sonhado.
Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio de Janeiro / Secretaria
Municipal de Cultura / RioArte e Relume Dumará, 2000. (Col. Coleção Cantos do Rio)
4 História
de práticas esportivas no Rio de Janeiro